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Ricardo Pianta publica artigo na Revista RTI sobre qualidade de experiência e automação de redes

Ricardo Pianta publica artigo na Revista RTI sobre qualidade de experiência e automação de redes

02 de julho, 2025

CEO da Venko destaca os desafios do Wi-Fi residencial e a importância da automação para a qualidade do serviço de banda larga

Nos anos 90, uma tecnologia surgiu como solução de todos os problemas, o ATM. ATM, numa descrição grosseira, misturava os mundos síncrono (como a voz e o vídeo, que exigem entrega contínua e em tempo real) e assíncrono (dados em geral, que toleram variações de tempo), lidando com essas diferentes características de tráfego sob uma mesma estrutura de comunicação. Simultaneamente, a Internet ganhava popularidade, uma rede caótica, tecnologicamente simples e distribuída, simplesmente roteando pacotes IP. Me perdoem pela simplificação exagerada...

O tempo passou, ATM desapareceu, e todo o universo convergiu para a rede IP. Tudo passa pela Internet, dados, voz e vídeo numa única rede, trazendo à tona as questões que ATM resolvia há 30 anos. ATM segmentava e tratava dados com diferentes requisitos e características de velocidade e latência, exatamente o que os novos protocolos de roteamento segmentado (segment routing) entregam, permitindo que dados com diferentes requisitos percorram caminhos diferentes na rede, isso num universo com tráfego ordens de magnitude maior.

Mas para que toda essa conversa histórica? Porque, no final, tudo o que sempre se quis e se quer é assegurar a “qualidade de experiência” do usuário. A qualidade de experiência é a garantia de que cada aplicação, dados, voz, vídeo, se comportam da maneira esperada: voz limpa, sem cortes, sem atrasos; fluxo de dados que permita navegação e aplicações funcionando de forma fluida, sem interrupções e com tempos de resposta compatíveis; vídeo de alta qualidade sem interrupções. Entregar tudo isso passa por alguns desafios e algumas obviedades.

Provedores de banda larga têm um discurso só: velocidade. O raciocínio simplista é: se eu entregar uma velocidade que consiga lidar com toda a carga de dados do usuário, eu posso supostamente ignorar as múltiplas aplicações que estão ocupando essa banda. Ou seja, quanto mais larga for a banda larga, melhor. O que todo provedor sabe, mas prefere não discutir, é que a entrega da banda larga não é – e faz muito tempo – o lugar em que o serviço “real” é entregue. Esse lugar é o Wi-Fi...

Na maioria das residências, 100% do tráfego passa antes pelo Wi-Fi, e só depois ingressa no que entendemos por banda larga. No último encontro combinado do Broadband Forum e Wireless Global Congress, Rajat Ghai, VP de Engenharia da Comcast responsável pelo serviço xfinity Wi-Fi, revelou o óbvio silencioso: “somos uma empresa de Wi-Fi”. O que significa isso na prática? Que, se o provedor de banda larga não garantir a experiência do cliente no Wi-Fi, perde o cliente, simples assim. O Wi-Fi não é problema do cliente, como gostaríamos que fosse.

A questão é que o problema não para de crescer. Enquanto escrevia esse artigo, dei uma espiada no meu roteador: 23 dispositivos conectados. Se fosse mais cedo, poderíamos somar mais 2 ou 3 TVs e mais uns dois notebooks. Pelo menos 3 gerações de Wi-Fi (como 802.11n, ac e ax) vivendo sob o mesmo teto, uma guerra de gerações, onde dispositivos mais antigos podem impactar o comportamento dos mais novos! O usuário médio não percebe essa guerra silenciosa, somente sofre as consequências e... reclama.

Dado que o problema está posto, qual é a solução? Muita tecnologia aplicada, que passa por uma pequena grande revolução. “Pequena” porque envolve conceitos já existentes, mas “grande” porque é transformacional e profunda. Ela começa pela observação do que acontece na casa do usuário, quais as aplicações que estão acontecendo a cada momento, e como elas estão se comportando. Sem ter dados sobre a experiência do usuário, tudo é um tiro no escuro e desperdício de recursos. Tendo os dados, é partir para a ação. A ação pode acontecer na casa do usuário, substituindo dispositivos, orientando, fazendo intervenções corretivas. E pode (e deve) acontecer também na rede do provedor, fora da casa do cliente. O problema é que as redes dos nossos provedores não estão prontas para isso. Estão engessadas numa enorme e crescente complexidade, muitas vezes resultante da diversidade de soluções e interesses de diversos fornecedores que se beneficiam dessa complexidade. Os líderes de inovação nesse mercado têm investido pesadamente na simplificação e na automação dessas redes, aplicando os conceitos de SDN – Software Defined Networks – que começaram a ganhar força há cerca de 15 anos, mas que ainda têm uma adoção limitada no Brasil. Na mesma apresentação da Comcast, foi apresentado o número fantástico de 370 mil alterações de rede nos últimos 12 meses! Isso só é possível com SDN apoiado por uma carga elevada de testes e ações automatizadas. Os mesmos testes funcionais que os fabricantes utilizam nos cenários de testes de roteadores e switches aplicados para antecipar efeitos colaterais de mudanças e garantir a segurança do serviço. Isso tudo viabiliza outros dois conceitos antigos: self-healing networks, redes que identificam anomalias ou mudanças de perfil de tráfego e resolvem essas situações sem intervenção humana; e intent-based networking, um processo automatizado de configuração de rede que responde aos objetivos de negócio que devem ser atendidos.

Para encerrar, estamos na infância da aplicação de IA em telecom, o que eu chamaria de IA “no core”. Os dados são massivos, desde a análise de comportamento de aplicações na casa do usuário até a telemetria profunda dos elementos de rede, passando por toda a área de cibersegurança. A combinação do uso de IA para análise desses dados e o uso dos resultados como entrada para os mecanismos de self-healing são ferramentas muito poderosas, mas dependem de uma rede construída para ser automatizada. É um investimento que deveria ser prioritário e urgente para qualquer operadora de médio porte.

Fonte: RTI

Imagem: Canva, RTI e Venko